Esse sábado, 08 de novembro, será realizado na UNICAMP um sprint voltado ao OpenLattes/ScriptLattes como previamente anunciado.

Como Participar

Estaremos utilizando o espaço do NIED na UNICAMP e os interessados apenas precisam comparecer no NIED a partir das 9:00. Para quem não conhece o NIED, ele fica de frente para a Praça da Paz e do Restaurante Del Sol (ver OpenStreeMap).

Esperamos ter suporte a vídeo conferência para possibilitar a participação remota de quem desejar mas já podermos confirmar no início das atividades. Fique atento aos comentários deste post.

Para quem não mora em Campinas e quiser participar, você pode tentar combinar uma carona na nossa lista.

Projetos Propostos

Temos vários projetos propostos tanto para o OpenLattes como para ScriptLattes. Fique a vontade para adicionar novas propostas.

Maiores informações

Se precisar de maiores informações você pode utilizar os comentários desse post.

Neste mês de novembro o Jornal da Unesp traz uma entrevista comigo, feita pelo Oscar D’Ambrosio. Como por motivos de espaço ele precisou omitir partes da resposta, publico aqui a íntegra da entrevista, espero que achem interessante.

(As diferenças para o texto do jornal estão na terceira pergunta, que foi omitida, e na quarta pergunta, cuja resposta foi abreviada.)

Bloedel Reserve Willow Tree

1) O que se entende por ciência aberta hoje? Como surgiu o conceito e qual são seus principais passos?

O entendimento mais completo é a ideia de que a informação científica, dos dados ao design de instrumentos aos métodos às conclusões, deve ser compartilhada tão cedo quanto possível no processo de pesquisa. Ou seja, tornar a pesquisa um processo transparente e colaborativo, onde a competição ocorre baseada simplesmente em contrbuições à inovação e progresso da ciência, e não na restrição de acesso e no tratamento de ideias como propriedade.

Isso é possível, e vantajoso para a ciência, pois alinha a prática de pesquisa aos mecanismos fundamentais de difusão, replicação, incrementação e crítica que garantem o avanço e validade das ideias científicas e as justificam como investimento da sociedade. Também quanto mais transparente e colaborativa a ciência, mais a comunidade é capaz de rastrear a origem das contribuições e atribuir crédito onde é devido, estimulando a competição sem recorrer a segredo, intermediários e sem obstruí-la através de restrições pouco compatíveis com o uso público da razão que a ciência representa.

2) Na sua concepção estamos caminhando para uma sociedade em que predominem a ciência cidadã e a educação aberta?

Estamos lutandor por isso. Ano passado um grupo de pesquisadores de diversas áreas iniciou um grupo de trabalho para lidar com esse tema e tem havido interesse e participação por pesquisadores de diferentes gerações. Também do lado da sociedade tem surgido um movimento, desde pontos de cultura até espaços mais autônomos como hackerspaces. Também na educação, onde vivemos um momento de decadência do sistema educacional nas sociedades liberais que insistem num modelo hierárquico, há exemplos de grande sucesso de iniciativas de educação aberta, com uso de recursos educacionais abertos, currículos flexíveis, ensino ativo e metodologias participativas, além de na educação básica um interesse por escolas democráticas ou que incorporam elementos dessas,

3) Quais são as principais ferramentas científicas e hardwares desse universo?

Hoje a pesquisa de ponta em instrumentação científica aberta parte do CERN, o grande laboratório de física, que tem publicado os desenhos de instrumentos com uma licença livre, que permite reutilização irrestrita, chamada CERN Open Hardware License. Também montaram um repositório para qualquer um compartilhar e colaborar em instrumentos, desde que usem a mesma licença que garante a liberdade desse conhecimento. No Brasil, institutos como o LNLS tem usado e contribuído desenhos para esse reposiório. Outros exemplos são o IFRN, que foi premiado com um desenho de estação meteorológica em hardware aberto. E talvez o centro institucionalmente mais avançado nessa discussão seja o CTA-UFRGS, Centro de Tecnologia Acadêmica, onde o professor Rafael Pezzi e sua equipe vem buscando desenvolver uma linha de produção para novos instrumentos toda baseada em hardwares e softwares abertos.

4) A sua visão é otimista ou pessimista em relação ao futuro dessas iniciativas?

Otimista, como deve estar transparente pelas respostas anteriores!

Mas restam muitos desafios a enfrentarmos, culturais, institucionais, legais, de massa crítica e de políticas e visão da ciência no Brasil.

Uma área em que somos particularmente retrógrados é no nosso entendimento da relação entre política científica e industrial, em particular na nossa visão colonizada do sistema de patentes. Ainda assumimos a falácia de que defesa e produção de patentes significa vantagem competitiva para nossas indústrias e vantagem econômica para as universidades. Acontece que, mesmo nos países industrializados e em muito melhores condições de explorar esse sistema, ele pode ter o efeito oposto. E torna-se ainda mais prejudicial e incoerente num sistema acadêmico público como o do Brasil.

É claro que sugerir uma associação inversa entre patentes e inovação pode parecer estranho para quem observa as políticas em implementação no Brasil, mas tal oposição não é novidade para estudiosos do assunto, encontrando-se desenvolvida em trabalhos do prêmio nobel de economia Joseph Stiglitz, do professor, emérito de Stanford e Oxford, Paul David, e de outros economistas como Michele Boldrin e David Levine. Ela encontra-se refletida na histórica econômica, de países como os EUA e a China, e em ações atuais de empresas como a norte-americana Tesla, que recentemente abriu mão de suas patentes para estimular a inovação e o livre mercado, e os membros da Open Invention Network, dentre eles Red Hat e Google, todos detentores de patentes que denunciam abertamente o prejuízo que esse sistema tem causado à inovação, abrindo mão desse monopólio, em diversas aplicações.

Assim, as diretrizes e a formulação ideológica da propriedade intlectual nas universidades brasileiras precisa urgentemente ser atualizada, porém o que tem ocorrido ainda é o movimento oposto, e parecemos incapazes de aprender com as lições vividas pelos colegas no exterior.

Um fenômeno parecido pode ser notado na educação, onde ao invés de buscar superar o paradigma da educação industrial, até para contornar sua inexorável decadência já reconhecivel em países como os EUA, insistimos num modelo de sobrecarga curricular e incentivos baseados em exames padronizados, que já se demonstraram ineficazes lá, onde foram concebidos. Assim, antagonizamos as oportunidades cognitivas e tecnológicas em que os jovens hoje se desenvolvem, ao invés de aproveitá-las. E não faltam bons exemplos no próprio país, mas para ter escala poderíamos observar outros países de cultura liberal onde a educação tem tido contínuo progresso, como no norte europeu, onde redução radical da carga curricular e valorização da autonomia do aluno e adaptabilidade dos materiais tem, irônicamente, garantindo até sua posição superior nos exames comparativos internacionais.

Quem tiver interesse nesses assuntos pode conhecer mais e ingressar na lista de emails do grupo de trabalho, pelo endereço https://www.cienciaaberta.net/

Ontem, 28 de Outubro, ocorreu nosso encontro virtual mensal e contou com a participação do Alexandre, do Abdo e da Veronique.

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Não teve nenhum anúncio.

Semana do Acesso Aberto

Foi discutido algumas coisas sobre a Semana do Acesso Aberto. Os tópicos discutidos encontram-se detalhados nesse outro post.

Sprint OpenLattes

O Abdo pediu detalhes sobre o Sprint OpenLattes. Maiores detalhes sobre o sprint será disponibilizados em breve.

Livro sobre Ciência Aberta

Uma das resoluções do Encontro no Rio foi a publicação de um livro sobre Ciência Aberta. Quem tiver interesse em ler o que o Abdo já escreveu para o livro pode fazê-los aqui.

Formato dos Encontros

Estamos pensando em alterar o formato dos encontros para ser centrado na apresentação de um projeto ou trabalho e debate sobre ele. Além disso também estamos pensando em mudar o horário para que possa ser "incluído na jornada de trabalho" dos membros. Essas mudanças ainda estão sendo discutidas.

Comunidade

A nossa comunidade está precisando de um gerente de, no mínimo, dedicação parcial para assumir várias tarefas, e.g. a organização dos encontros virtuais. Se me recordo bem da reunião de Setembro o Abdo e a Sarita estão concorrendo no edital do IDRC com um projeto chamado "Open and Collaborative Science for Development" que inclui suporte financeiro para o gerente da nossa comunidade. Não sei em que pé está esses planos nas seria muito bom ter alguém para no próximo ano.

Na semana passada, de 20 a 26 de Outubro de 2014, ocorreu a Semana do Acesso Aberto ou Open Access Week. Esse post é uma revisão do que ocorreu nessa semana.

Abertura da Semana do Acesso Aberto

A Semana do Acesso Aberto foi oficialmente iniciada com algumas palestras no Banco Mundial que foi transmitido ao vivo (e espero que seja disponibilizado em breve).

Open Access Button

O Open Access Button ganhou uma nova versão. Para quem não sabe, o Open Access Button é uma extensão disponível para os navegadores web que permite o usuário marcar um artigo científico como indisponível devido a barreiras financeiras.

OKF Internacional

A OKF publicou uma série de blog posts especiais durante a semana, destancando-se:

BioMed Central

A BioMed Central também publicou uma série de blog posts especiais durante a semana. Vários dos posts falavam sobre jovens pesquisadores como a Renata Aquino Ribeiro.

Financiamento do Right to Research

Parece que acabou não sendo divulgado na nossa comunidade mas o Right to Research ofereceu auxílio financeiro para aqueles que quisessem realizar algum evento durante a Semana do Acesso Aberto.

OpenCon

Um outro evento relacionado com Acesso Aberto que ainda vai ocorrer esse ano é a OpenCon que contará com transmissão ao vivo.

Preparando-se para 2015

E assim vamos chegando ao fim de 2014. Aqueles que já estiverem começando suas listas com as resoluções para 2015 adicione "Organizar algo na Open Access Week 2015". Estamos aqui para lhe ajudar nessa tarefa e vamos tentar não esquecer de anunciar possibilidades de financiamento caso queira realizar um evento.

No dia 08 de novembro, sábado, será realizado na UNICAMP um sprint voltado ao OpenLattes/ScriptLattes.

Sumário

O objetivo do sprint é iniciar as atividades relacionadas com o OpenLattes/ScriptLattes (isso inclui debate sobre o projeto, planejamento, prototipagem, documentação, …) e colocar as pessoas da comunidade interessadas no assunto em contato.

As atividades serão realizadas no NIED, com início às 9:00, com a possibilidade de participação remota.

Propostas

Qualquer trabalho relacionado com o OpenLattes/ScriptLattes são bem vindos. Apenas pedimos que seja feita uma proposta inicial concreta pois, normalmente, começar sem um norte é uma forma de andar em círculos durante o sprint.

As propostas iniciais incluem: documentar o ScriptLattes, escrever exemplos que utilizam o ScriptLattes, portar o ScriptLattes para Python3 (com algumas melhorias de engenharia de software).

Se tiver alguma sugestão você pode utilizar o sistema de comentários desse blog para fazer sua sugestão.

Como participar

Estaremos utilizando o espaço do NIED na UNICAMP e os interessados apenas precisam comparecer no espaço dia 08 a partir das 9:00.Teremos suporte a vídeo conferência para possibilitar a participação remota de quem desejar.

Adoraríamos ver caravanas do pessoal da região “metropolitana” do Estado São Paulo.

Outras perguntas e respostas

  1. Quem pode participar?

    Qualquer um.

  2. Preciso ser um programador?

    Não. As pessoas melhor qualificadas para várias das atividades são aquelas sem conhecimento de programação.

  3. Devo levar meu próprio computador?

    Sim.

  4. Sobre almoço, lanche e happy hour?

    Existem boas opções próximas ao NIED.

  5. Saiba mais na página do projeto na Wikiversidade

Acontece no próximo dia 28 de outubro, às 20h30, mais um Encontro Virtual do Grupo de Trabalho em Ciência Aberta. O encontro é aberto e ocorre sempre na última terça-feira de cada mês. Instruções para participar será adicionada como comentário deste post no dia 28.

O tema dessa edição é a Open Access Week que está ocorrendo nessa semana e queremos ouvir o que vocês acharam do “evento”. A pauta completa do encontro está sendo organizada nesse pad.

“Acesso aberto” à literatura científica revisada por pares significa a disponibilidade livre na Internet, permitindo a qualquer usuário ler, fazer download, copiar, distribuir, imprimir, pesquisar ou referenciar o texto integral desses artigos, recolhe-los para indexação, introduzi-los como dados em software, ou usá-los para outro qualquer fim legal, sem barreiras financeiras, legais ou técnicas que não sejam inseparáveis ao próprio acesso a uma conexão à Internet. As únicas restrições de reprodução ou distribuição e o único papel para o direito autoral neste domínio é dar aos autores o controle sobre a integridade do seu trabalho e o direito de ser devidamente reconhecido e citado

O Projeto “ma plataforma de informação sobre as políticas e práticas editoriais mais recomendadas para publicações acadêmicas que atendam aos padrões de Acesso Aberto (Open Access em inglês) na América Latina. É um projeto da ONG d(Colômbia).

Equipo de trabajo

O Projeto desenvolve algumas ferramentas, entre elas, o

Regardons la finesse de mousseline choisie et les détails d’ornement exquis, il n’y a aucun doute que vous tombez amoureuse avec notre robe de cocktail en mousseline de soie.

 

 

 

 

A editora Nature informou recentemente que, em outubro, seu periódico Nature Communications se tornará de acesso aberto “puro”: todos os artigos publicados a partir de então poderão ser lidos e reutilizados gratuitamente (a princípio eles entrarão no ar sob uma licença Creative Commons-BY, que permite praticamente todo tipo de uso e reuso). Até hoje o periódico era híbrido, publicando em acesso aberto ou fechado de acordo com a opção do autor, mas agora ele será exclusivamente de acesso aberto. O grupo que publica a revista Science também já possuía um periódico de acesso aberto “puro”, o Science Advances — mas parte dos artigos eram publicados sob a licença CC-NC, que impede usos comerciais.

Pronto: os maiores bastiões da publicação científica tradicional dão sinais claros de apoiar o avanço do acesso aberto. Será que já podemos estourar as champanhes? É evidente que a notícia tem aspectos positivos: vidas poderão ser salvas em países pobres, quando médicos, por exemplo, tiverem acesso às informações científicas mais atualizadas — informações que antes estavam fechadas atrás de um paywall intransponível para a maioria do terceiro mundo. Os trabalhos publicados sob acesso aberto tendem a alcançar mais visibilidade, e isso pode beneficiar a pesquisa de países como o Brasil.

O quadro, no entanto, é mais complexo do que parece. Nesses dois casos, Nature e Science adotam um modelo específico de acesso aberto: o chamado “modelo ouro”, em que os custos da publicação são cobertos por uma taxa cobrada dos autores dos artigos aprovados (o article processing charge, ou APC); o acesso aos artigos é aberto para leitores e usuários, mas o acesso a esse espaço de publicação é fechado aos autores que puderem pagar a cobrança. No caso do Nature Communications, essa cobrança é de US$ 5000 por artigo, uma das mais altas em qualquer periódico existente (em 2010, a maior registrada era de US$ 3900 — segundo o levantamento de um artigo… em acesso fechado).

Essa cobrança equivale a quase dois meses de salário líquido de um professor brasileiro nas melhores carreiras de universidades públicas (as de dedicação exclusiva). Quem aí topa pagar 15% de sua renda anual para publicar um artigo? A Nature informou que dispensará o pagamento da taxa para pesquisadores de uma lista de países mais pobres (mas que não inclui Brasil, China, Índia, Paquistão e Líbia, entre outros), e também para outros numa análise “caso a caso” — mas sem dar mais nenhuma informação objetiva sobre essa política. (Palpito que é melhor não apostar numa generosidade desbragada da editora que cobra US$ 32 para quem quer ler um único artigo, ou US$ 18 para ler uma única seção de cartas [!] das suas revistas.)

Por outro lado, a tendência mundial é que as instituições às quais os pesquisadores estão vinculados (a universidade em que ele trabalha, ou a agência de fomento à pesquisa que financia sua pesquisa) arquem com parte dessas cobranças, em parte pelo valor que atribuem à publicação em periódicos de alto impacto. A Fapesp, por exemplo, oferece um apoio específico para pagar essas taxas, e também autoriza que elas sejam pagas com a chamada “reserva técnica” de bolsas e apoios a projetos de pesquisa. Ocorre, porém, que a verba disponível para esses auxílios é limitada, e em geral eles não são dados automaticamente; no exemplo da Fapesp, os pesquisadores concorrem entre si pela verba, e um dos principais critérios de avaliação é — como em quase toda a burocracia acadêmica hoje — o histórico de publicações do autor:

Critérios de análise […]

a) Histórico Acadêmico do Solicitante

a.1) Qualidade e regularidade da produção científica e/ou tecnológica. Elementos importantes para essa análise são: lista de publicações em periódicos com seletiva política editorial; livros ou capítulos de livros […]

Ou seja, o pagamento pelas instituições tem boas chances de alimentar uma espécie de espiral viciosa, em que pesquisadores que já publicam em grandes revistas conseguem mais dinheiro e mais chances de publicar, e os demais não.

O avanço do acesso aberto pela via do modelo ouro ainda envolve outro risco: a proliferação das chamadas editoras predatórias. Trata-se de editoras que fazem da publicação em acesso aberto (com pagamento por autores) um negócio em que o lucro é maximizado por meio da redução drástica dos padrões de qualidade exigidos na revisão por pares — ou mesmo pela virtual eliminação da revisão: se pagar, publica-se. Por um lado, esse modelo satisfaz as cobranças de produtivismo sobre pesquisadores (cujas carreiras são avaliadas pelo crivo do lema publicar ou perecer); por outro, ele explora o fato de que, no modelo ouro, é possível tornar o ato da publicação em uma mercadoria, a ser vendida a esses pesquisadores, e com isso obter altas taxas de lucro — mesmo sem recorrer ao monopólio baseado em propriedade intelectual, que era a chave do poder econômico das editoras científicas tradicionais com publicações “fechadas”. O uso de uma lógica estritamente mercantil resulta, aqui, na poluição e degradação do acervo de conhecimento científico da humanidade, pois o central para as editoras predatórias é a maximização de lucro: a qualidade dos artigos é irrelevante, ou apenas um fator secundário.

Evidentemente, não quero com isso dizer que a Nature tornou-se uma editora predatória; mas acredito que exista o risco de uma lenta corrupção do processo de revisão (para garantir mais lucros com publicações) em editoras sérias mas com menos poder de mercado, assim como o risco da multiplicação de periódicos fajutos, que fazem uma revisão por pares apenas de fachada. Nesse último caso, infelizmente não se trata de um risco hipotético: esse “modelo de negócio” escuso já é adotado em centenas de periódicos.

Mas será que então estamos num beco sem saída quanto a esse problema da mercantilização da publicação científica? Ele estará presente seja nos periódicos fechados, seja nos de acesso aberto? Não necessariamente: mesmo no interior do modelo ouro, há iniciativas positivas nesse sentido — é o caso da Public Library of Science (PLOS), uma editora em acesso aberto que cobra pela publicação, mas funciona sem finalidades de lucro; por conta disso, ela não tem motivos para eliminar critérios de qualidade na seleção de artigos com vistas a obter mais com a cobrança por publicação. Talvez isso também explique o fato de ela possuir uma política de isenção de taxas para pesquisadores pobres (ou de países pobres) mais transparente e com cobertura mais ampla do que a da Nature. E vale lembrar, por fim, que o modelo ouro não é o único modelo existente para a publicação em acesso aberto: a principal alternativa é o modelo verde, baseado em repositórios institucionais. Esse modelo impõe uma série de desafios de coordenação e de custeio, mas a tendência é que nele a publicação deixe de seguir uma lógica estritamente mercantil, e siga um modelo mais próximo dos interesses comuns da sociedade e da comunidade acadêmica; ele não é propriamente um substituto do modelo ouro (até porque a princípio ele não é pensado para custear a revisão por pares), mas é importante juntar esforços para fortalecê-lo, evitando que o modelo ouro torne-se a única via para o acesso aberto.

(Os comentários que fiz aqui estão diretamente relacionados à minha tese de doutorado sobre bens comuns e mercantilização, onde esses assuntos são explorados com um pouco mais de detalhe — principalmente na introdução e no capítulo 4, pp. 17-20 e 272-88. Este post nasceu de um debate na lista do Grupo de Trabalho Ciência Aberta.)

O jornalista e o cientista. Um querendo saber de tudo, decifrar e divulgar para o mundo. O outro, por vezes, age de maneira discreta, com medo do que a mídia vai veicular sobre a sua pesquisa, especialmente se os resultados ainda forem parciais.

Nenhum dos dois está errado e cada um tem seus medos e dilemas, seguindo sua ética profissional. Mas, o que fica cada vez mais óbvio é a importância de tirar a ciência dos galpões das universidades, dos recônditos laboratórios e dos infindáveis protocolos.

E para termos, de fato, uma ciência aberta, que fale não apenas de métodos, mas que toque no aspecto humano da pesquisa e seus impactos para a sociedade, precisamos de uma mudança de paradigma. O jornalista que trabalha com ciência não pode querer “traduzir” o que leu em um paper e nem pode o cientista resguardar seus dados com medo de que eles sejam publicados de maneira incorreta.

O jornalista de ciência deve, antes de tudo, focar-se mais nos resultados e nos impactos que a pesquisa trará para a vida de determinado grupo social do que para o currículo do cientista e deve ver o cientista muito mais que como um mero pesquisador, mas sim como um ser humano que tem medos e cuja subjetividade influencia no objeto pesquisado.

A divulgação científica não pode ser vista como tradução de métodos para a linguagem leiga, deve, antes de tudo, referenciar as condições sociais de desenvolvimento da pesquisa, o contexto, cenário, desafios e também os dilemas e contrariedades que traz em si.

Uma ciência aberta precisa de um jornalista de coração aberto para encarar a ciência como além do que aquilo que é praticado pelo cientista, mas sim, como o exercício da curiosidade humana em busca de respostas para seus fenômenos.

Como disse o jornalista Carlos Fioravanti recentemente, em uma de suas belíssimas reportagens, “para fazer um trabalho abrangente, os pesquisadores têm de sair do laboratório, colocar uma roupa de estrada, viajar para lugares inimagináveis, conhecer os hábitos e os silêncios dos moradores do interior do país e buscar informações em outros espaços”. É deste caminho das pedras que falo para ter uma ciência verdadeiramente humana e social, na qual o jornalista não tema divulgar as incertezas da pesquisa e o cientista não se sinta inseguro de não ter nos resultados de seu trabalho verdades incotestáveis.

Referência

O caminho de pedras das doenças raras

Texto: Isabela Pimentel, jornalista, especializada em divulgação científica

Na semana do dia 18 de agosto ocorreu, no Rio de Janeiro, o encontro Ciência Aberta, Questões Abertas que foi uma ótima oportunidade de debater sobre o tema ciência aberta.

Por Anneclinio (Obra do próprio) [CC-BY-SA-4.0 (http://creativecommons.org/licenses/by-sa/4.0)], undefined

Segunda e terça foram dias de workshops:

  • Software Carpentry: ministrado por Raniere Silva e Alex Viana que introduziram os participantes ao Git, um sistema de controle de versão distribuído.
  • Hackaton de hardware científico aberto:reunindo pesquisadores envolvidos com hardware aberto no brasil e exterior, que trouxeram kits de hardware aberto, tanto didáticos como instrumentais, para trabalhar juntos e discutir atividades e possíveis progressos para a área.
  • Content Mining: ministrado Peter Murray-Rust apresentou conceitos de web semântica e como utlizar a ferramenta sendo desenvolvida por seu grupo para extração de conteúdo e significado de artigos científicos em larga escala.
  • Métricas alternativas: Iara Vidal e Andrea Gonçalves debateram o uso de métricas alternativas e mostram como obtê-las e também como criar um perfil para agregar as novas métricas. Os slides utilizados estão disponíveis no Slideshare.
  • Wikiversidade, abrindo projetos e cadernos de pesquisa: Ale Abdo e Daniel Mietchen apresentaram a Wikiversidade, um espaço para colaboração científica livre, parceiro da Wikipédia. Utilizando desse espaço e e outras ferramentas de colaboração, os participantes produziram um documento coletivo e bilíngue a respeito do significado e possibilidades de compararar experimentalmente processos científicos realizados com e sem práticas abertas.
  • Wikimedia projects as plataforms for Open Science: Daniel Mietchen mostrou diversos exemplos de uso acadêmico dos projetos Wikimedia, como Wikipédia, Commons e Wikisource, assim como formas de acadêmicos contribuirem para esses projetos também se beneficiando dessa contribuição.
  • Pesquisa visual: explorando interseções entre pesquisa visual e ciência aberta, a professora Liliane Leroux e o cineasta Flávio Machado, do Nucleo de Estudos Visuais em Periferias Urbanas (NuVisu-UERJ), questionaram o status atual das imagens no campo científico, mostrando sua gradativa subestimação em favor da valorização da palavra como eixo do pensamento. Recuperou-se exemplos históricos, como imagens animadas em estudos sobre o trote de cavalos, o registro em imagens de outros povos pelos europeus, e recentes inovações com a publicação de artigos científicos em audiovisuais em periódicos como Jove. Os participantes realizaram uma atividade prática simulando uma pesquisa exploratória sobre o campus da UFRJ, concluída com um debate comparando as opções, estilos e intencionalidades narrativas e de uso da câmera em cada grupo.

Na quarta, quinta e sexta realizou-se o seminário:

  • Palestra de Abertura – The Republic of Open Science: Paul David apresentou um panorama histórico da ciência aberta.
  • Ciência aberta: questões em debate: Nessa sessão de abertura, Alessandro Delfanti, Leslie Chan e Sarita Albagli pincelaram os temas que seriam abordados nos próximos dois dias.
  • Ciência cidadã e educação aberta: Denisa Kera e Ellen Jorgensen falaram sobre o uso de espaços comunitários (e.g. hackerspaces) para produção e expansão da ciência enquanto David Cavallo abordou a produção e aplicação da ciência em comunidades remotas.
  • Ferramentas científicas e hardware abertos: Paulo Meirelles e Alex Viana falaram sobre o uso de software livre na academia e sua importância para a efetividade da ciência, destacando a necessidade de sua difusão entre alunos, enquanto Rafael Pezzi falou semelhantemente sobre hardware aberto, a necessidade de softwares livres para projetá-los (e.g. CAD livre) e conflitos com as diretrizes de patentamento e avaliação nas instituições.
  • Inovações em publicação científica aberta e alternativas de avaliação: Cameron Neylon, Leslie Chan e Daniel Mietchen falaram dos problemas e das mudanças nos processos de avaliação e publicação na ciência, discutindo e demonstrando o potencial abordagens alternativas.
  • Dados científicos abertos: Peter Murray-Rust atacou a cultura fechada na academia, expondo danos causados, e justificou o espírito da publicação dados na prática de Cadernos de Pesquisa Abertos (Open Notebook Science), enquanto Robson Souza falou sobre a história, estrutura e manutenção de bancos de dados científicos públicos, e Jorge Machado mostrou como dados abertos aproximam ensino e pesquisa na sua prática, e como a Lei de Acesso à Informação pode ser aplicada na abertura de dados relevantes para a ciência.
  • Wikipesquisas e cadernos científicos abertos: Cameron Neylon falou sobre o tema através de um histórico do pensamento e práticas de Jean-Claude Bradley. Matthew Todd apresentou sua iniciativa para descoberta de fármacos para tratar a malária, e Alexandre Abdo mostrou algumas experiências brasileiras utilizando wikis e outras plataformas para colaboração acadêmica aberta e em tempo real.

Ao término do seminário, Anne Clinio leu um texto pessoam em homenagem a Jean-Claude Bradley, encerrando-se com um vídeo do próprio apresentando suas ideias e práticas, virtualmente trazendo-as com brilhantismo como palestrante homenageado do seminário.

Durante o evento aconteceram discussões no Twitter usando a hashtag #OSRio, que foram sintetizadas pela Iara Vidal VPS num Storify junto a links para material adicional.

Por Anneclinio (Obra do próprio) [CC-BY-SA-4.0 (http://creativecommons.org/licenses/by-sa/4.0)], undefined South Africa seo company reviews