Aqui estão três artigos que dão notícias de uma história muito triste:

Sci-Hub: Scientists, Academics, Teachers & Students Protest Blocking Lawsuit

Judge: Sci-Hub Blocking Case “Important” For Science, Community Representations Will Be Heard

Sci-Hub Founder Criticises Sudden Twitter Ban Over Over “Counterfeit” Content

Em poucas palavras, Elsevier, Wiley e a American Chemical Society (ACS) decidiram que o meio da pandemia de Covid-19 é o momento acertado para entrar com uma ação para bloquear o Sci-Hub num país pobre e vulnerável. E, ao que tudo indica, também pressionaram e conseguiram que o Twitter bloqueie a conta do site – Twitter que, por sinal, cedeu sem titubear.

O agravante da pandemia vem em vários sentidos pois: cientistas precisam de acesso à literatura mais do que nunca para lidar com o problema; médicos nem se fala, e a maioria das instituições de saúde não tem como pagar acesso; muitos pesquisadores estão em home-office, de forma que mesmo quem teria acesso pela universidade está com esse acesso dificultado, se não impossibilitado; grandes números de grupos cidadãos mobilizados para contribuir aos esforços científicos dependem do Sci-Hub; para não falar de cidadãos buscando se manterem informados e melhor combater falsidades.

E não venham falar que alguns periódicos tem liberado acesso à literatura sobre Covid, isso é uma grande cortina de fumaça, o acesso liberado não dá conta de nem 1% da literatura relevante, como aponta bem Peter Murray Rust neste texto.

Incongruência e vergonha para a comunidade científica.

.~´

Ni!

A Comissão Européia anuncia para março a inauguração da plataforma de publicação Open Research Europe, que será colocada à disposição de projetos de pesquisa financiados por ela. Dois fatos interessantes: revisão por pares aberta, e publicação sem taxas.

Ao mesmo tempo, após um período de testes que começou em maio, a eLife anuncia sua transição para um modelo de “publicar, depois revisar”, onde a revista irá apenas revisar preprints, e focar na produção de revisões de alto nível que serão tornadas públicas junto aos preprints.

Esses movimentos podem representar um grande passo adiante tanto nos modelos econômicos de publicação científica, como de revisão por pares !

Abraços,

.~´

#paracegover
Grupo Texto Livre. Jornal do UEADSL 26/10/2018.
A edição de hoje apresenta uma turma lá de terras capixabas. Vamos conhecer um pouco mais sobre o trabalho da professora Vivian Pinto Riolo e sua turma de Morfologia 2 do curso de Letras do Instituto Federal do Espírito Santo.
Doutoranda em Estudos da Linguagem pela UFMG, na Linha_ Linguagem e Tecnologia, Mestra em Estudos Linguísticos – UFES e Pós-graduada em Estudos da Linguagem – Saberes, Vivian teve contato com o congresso no início de 2018, quando participou da comissão organizadora do UEADSL. “Gostei tanto da estrutura e da organização que resolvi levar meus alunos da turma de Letras do Ifes”, afirma.
Segundo ela, a ideia de participar do evento foi bem recebida tanto pela coordenação do curso quando pelos alunos. Além disso, a disciplina de Morfologia 2, conforme explica Vivian, apresenta uma carga horária extra, voltada para atividades de pesquisa, o que ajudou na elaboração os projetos.
Partindo de discursões em torno das relações morfossintáticas da língua, os projetos de aproximadamente 30 alunos abordam uma crítica à Nomenclatura Gramatical Brasileira (NGB). Para tanto, foram realizadas analises em livros didático e discursões de como o “professor precisa se preparar para possíveis questionamentos que fogem à prescrição da gramática tradicional, sempre estabelecendo relações com as pesquisas linguísticas realizadas que contrastam a gramática normativa aos fatos da língua”, explica a professora.
Com isso, nos textos que serão apresentados no UEADSL 2018.2, os congressistas poderão encontrar artigos sobre: preposições, as conjunções, os verbos e os advérbios em suas relações morfossintáticas. A ideia, segundo Vivian, “é que o aluno apresente um olhar crítico para as abordagens tradicionais, apresentando exemplos a serem analisados que fogem aos conceitos engessados da gramática prescritiva”.
De acordo com a professora o UEADSL possui uma riqueza nas interações, uma vez que elas começam em sala de aula entre professor-aluno e aluno-aluno. “São apontamentos, contribuições, críticas construtivas, esclarecimentos, parabenizações. E, com isso, o professor pode avaliar a turma processualmente, percebendo o avanço de seus alunos diante das colocações que são feitas a sua pesquisa. Além disso, outros olhares são somados ao do próprio professor que também é constituído nessas interlocuções durante as “comunicações”Ela ainda ressalta que a dinâmica do evento possibilita uma interação assíncrona, garantindo um tempo de reflexão para pensar no conteúdo. Além disso, “as dúvidas ficam registradas e a sensação é a de que nada se perde, pois todos fazem o máximo para esclarecer o que não foi possível explanar no texto, dada a extensão possível para os anais. Só vejo o saldo positivo em eventos online, com destaque para o modelo adotado no UEADSL”, conclui Vivian.
Quer conferir os trabalhos? Então participe do congresso fazendo seu cadastro na Plataforma de Eventos do Grupo Texto Livre: http://eventos.textolivre.org/cadastro-PlataformaEventos/ Em seguida, inscreva-se na edição em andamento.
informações, na página do UEADSL2018.2: http://ueadsl.textolivre.pro.br
Promoção: Grupo de Pesquisa, Ensino e Extensão Texto Livre: Semiótica e Tecnologia
Apoio: CAED FALE UFMG
Texto: Natália Giarola, Edição: Ana Matte, Tuxy: Lucca Fricke

Jornal do UEADSL - disponível na página do CAED/UFMG https://www.ufmg.br/ead/index.php/4835-2/#paracegover

JORNAL DO UEADSL 19 de outubro de 2018. O que Paulo Freire, linguagem, tecnologia, gamificação e softwares livres têm em comum? Bem, é isso que vamos descobrir nesta nova edição do Jornal UEADSL. Venha conferir e se encantar com essa interdisciplinaridade.
Ofertada desde 2011 para a pós-graduação na linha de pesquisa Linguagem e Tecnologia, do Programa de Pós-Graduação em Estudos Linguísticos (POSLIN) da UFMG, pela professora Ana Cristina Frike Matte, a disciplina, que se chamava “Aplicações Computadorizadas para os Estudos da Linguagem”, é aplicada em um ambiente digital assíncrono, utilizando uma metodologia paulofreiriana.
Até 2016, ela tinha como foco a lógica da programação de computadores. “Agora, para atender melhor ao contexto das pesquisas em Linguística Aplicada (LA), a matéria foi remodelada para dar mais destaque aos Recursos Educacionais Abertos (REA), ao Conhecimento Livre e à Ciência Aberta”, explica Ana Cristina.
Com a mudança, a disciplina passou a se chamar, em 2018, “Tecnologias digitais e REAs Livres: máquinas, softwares, inteligência artificial, semiótica e jogos”. Em andamento neste segundo semestre e com alunos da Bahia, Espírito Santo, Brasília, Goiás e Minas Gerais, as aulas abordam temas como gamificação de projetos educacionais, tecnologias digitais em rede, inteligência artificial e mediação e recursos livres, recursos abertos.
Um dos resultados do curso é a participação no UEADSL 2018.2. Para tanto, os alunos estão desenvolvendo artigos ligados as mais diversas teorias da linguística, sejam elas da Análise do Discurso ou LA. Além disso, há uma variedade de corpus, voltados principalmente para a gamificação na sala de aula, com experiências vivenciadas com jogos e softwares livres, por exemplo.
Você sabia?
Os alunos da pós-graduação começaram a participar do UEADSL no segundo semestre de 2011, separados dos alunos de graduação. Com tudo, visando uma educação aberta, nas demais edições houve a unificação dos alunos, abrindo, segundo a professora Ana Cristina, “perspectivas aos graduandos e levando os pós-graduandos a assumirem uma postura mais didática, enriquecendo sobremaneira o debate de todos os trabalhos”.
Quer conferir? Então participe do congresso fazendo seu cadastro na Plataforma de Eventos do Grupo Texto Livre: http://eventos.textolivre.org/cadastro-PlataformaEventos/ Em seguida, inscreva-se na edição em andamento.
Submissões de propostas para o ESQUENTANDO O FICLIVRE abertas até 22/10/18, acesse o bloco PARTICIPE! para maiores informações, na página do UEADSL2018.2: http://ueadsl.textolivre.pro.br
Promoção: Grupo de Pesquisa, Ensino e Extensão Texto Livre: Semiótica e Tecnologia
Apoio: CAED FALE UFMG
Texto: Natália Giarola, Edição: Ana Matte, Tuxy: Lucca Fricke

Grupo Texto Livre. Jornal do UEADSL 10/10/2018. Nesta edição, vamos conhecer um pouco mais sobre o Congresso Nacional Universidade EAD e Software Livre – UEaDSL. A sua última edição ocorreu no primeiro semestre de 2018, entre os dias 25 e 29 de junho. Com o tema Con-sciência”, a 12ª edição contou com a participação de estudantes e professores dos cursos de Letras, Educação, Nutrição, Engenharia, Ciências Biológicas, Medicina, Contabilidade e Administração da UFMG, FURG, UNIFAL, UFVJM, UNINTA, UNEB, e IFES. Além disso, o evento registrou 53 trabalhos, entre conferências e artigos das mais diversas áreas, totalizando em média 1828 visualizações por dia. O UEADSL é uma construção coletiva, feita exclusivamente por trabalho voluntário, bem no jeito como o Texto Livre gosta de fazer: cada profissional ajuda naquilo que mais gosta de fazer, naquilo que, por isso mesmo, sabe fazer melhor. Para conhecer o Texto Livre e, quem sabe?, juntar-se a nós, acesse nosso site: http://textolivre.org. Venha e FicLivre! A última edição também deve quebra de recordes, ao passar 24 mil visualizações totais, durante o mês do congresso e o de visualizações num único dia, que era de 2575, novembro de 2017, e alcançou 4079 em 25 de junho. Outro ponto alto foi a participação dos congressistas, com 1504 comentários que, somados aos comentários da Comissão Científica, realizados antes do início do evento, totalizaram 2294 comentários, bem acima dos 1500 alcançados em cada edição de 2017. Os números são de surpreender!!! Se comparamos com um evento presencial, as visitações e interações equivaleriam a um grupo de aproximadamente 150 pessoas assistindo cada trabalho e a, pelo menos, sete fazendo perguntas sobre o mesmo. Ficou com vontade de participar? Então corre, porque ainda dá tempo! Você pode encaminhar propostas para a Roda de Conversas ESQUENTANDO O FICLIVRE até 22/10. São propostas na forma de um artigo de 4 a 6 páginas que tenham como meta abrir uma discussão a partir de experiências e pesquisas que você quiser compartilhas para outros educadores e professores em formação. Se ainda não está cadastrado na Plataforma de Eventos do Grupo Texto Livre, cadastre-se: http://eventos.textolivre.org/cadastro-PlataformaEventos/ Em seguida, inscreva-se na edição em andamento. Atalho: http://ueadsl.textolivre.pro.br/inscreve Submissões de propostas para o ESQUENTANDO O FICLIVRE abertas até 22/10/18, acesse o bloco PARTICIPE! para maiores informações, na página do UEADSL2018.2: http://ueadsl.textolivre.pro.br A última edição também deve quebra de recordes, ao passar 24 mil visualizações totais, durante o mês do congresso e o de visualizações num único dia, que era de 2575, novembro de 2017, e alcançou 4079 em 25 de junho. Outro ponto alto foi a participação dos congressistas, com 1504 comentários que, somados aos comentários da Comissão Científica, realizados antes do início do evento, totalizaram 2294 comentários, bem acima dos 1500 alcançados em cada edição de 2017. Os números são de surpreender!!! Se comparamos com um evento presencial, as visitações e interações equivaleriam a um grupo de aproximadamente 150 pessoas assistindo cada trabalho e a, pelo menos, sete fazendo perguntas sobre o mesmo. Ficou com vontade de participar? Então corre, porque ainda dá tempo! Você pode encaminhar propostas para a Roda de Conversas ESQUENTANDO O FICLIVRE até 22/10. São propostas na forma de um artigo de 4 a 6 páginas que tenham como meta abrir uma discussão a partir de experiências e pesquisas que você quiser compartilhas para outros educadores e professores em formação. Se ainda não está cadastrado na Plataforma de Eventos do Grupo Texto Livre, cadastre-se: http://eventos.textolivre.org/cadastro-PlataformaEventos/ Em seguida, inscreva-se-se na edição em andamento. Atalho: http://ueadsl.textolivre.pro.br/inscreve Submissões de propostas para o ESQUENTANDO O FICLIVRE abertas até 22/10/18, acesse o bloco PARTICIPE! para maiores informações, na página do UEADSL2018.2: http://ueadsl.textolivre.pro.br O UEADSL apóia a Educação Aberta e o Conhecimento Livre. Se as coisas são inatingíveis… ora! Não é motivo para não querer vê-las. Que tristes os caminhos se não fora a mágica presença das estrelas. Mário Quintana. Promoção: Grupo de Pesquisa, Ensino e Extensão Texto Livre: Semiótica e Tecnologia. Texto: Natália Giarola Edição: Ana Matte Tuxy: Lucca Fricke Apoio: CAED, FALE UFMG.


Ni!

Hoje, 4 de setembro de 2018, anuncia-se a formação da cOAlisão S em torno do chamado Plano S. Inicialmente composta de 12 agências de financiamento à pesquisa europeias, dentre as quais o Conselho de Pesquisa Europeu (ERC), o grupo está aberto a novos participantes. Seu objetivo é a implementação imediata do plano e sua conclusão antes de 2020.

Alguns pontos importantes do plano:

  • Toda a pesquisa nas ciências e humanidades.
  • Mandatos, não apenas encorajamento.
  • Sem jornais híbridos, salvo em transição para OA completo.
  • Pagamento de APCs (taxas de publicação), mas limitadas.
  • APCs pagas por agências de financiamento e universidades, não por autores.
  • Exigência de licença CC-BY.
  • Monitoramento da adequação e punições com sanções.

Trata-se claramente de um plano audacioso, para dar um passo largo e decisivo diante das confirmações que os passos mais modestos precedentes trouxeram a favor do acesso aberto. Um ponto contudo fraco, como notou Peter Suber, é que enquanto o plano fala ainda em apoiar infraestruturas para acesso aberto, ele não é explícito sobre infraestruturas abertas – o que Peter define como “plataformas rodando software livre, usando padrões abertos, com APIs abertas para interoperabilidade, e preferencialmente controladas por organizações sem fins lucrativos”.

Para entender melhor a iniciativa, vale também ler o preâmbulo escrito por Marc Schiltz.

Ni!

Cares colegas,

Este post é uma reação pessoal frente à uma recente declaração favorável ao uso de licenças com cláusula NC (não-comercial) para publicações em acesso aberto, como forma de combater o domínio dos grandes conglomerados editorais.

Diante disso, me parece importante lembrar que a indústria editorial é a maior proponente das licenças NC. Se foi a duras penas que a comunidade de acesso aberto evitou que essa licença favorita das, e favorável às, grandes editoras se estabelecesse como regra, os esforços destas não cessaram.

Esse favoritismo vem de uma consciência por parte delas de que preservar uma parte qualquer do monopólio sobre o uso de obras acadêmicas significa preservar vias para a mercantilização do conhecimento.

Por isso afirmo que a Elsevier deve estar contentíssima com essa declaração recente. Mais contente ainda por não ter sequer pago os envolvidos para defender seus interesses.

A situação não é nem mesmo exclusiva do acesso aberto. Como vemos na música ou cinema, quando forçados a aceitar algo diferente de todos os direitos reservados, os grandes conglomerados favorizam as licenças com cláusulas não-comerciais.

Eles entendem bem a lógica do capital, que não é o comércio, mas a exclusão. Aonde há exclusão, há potencial de mercantilização e exploração.

Algumas observações que esclarecem isso no caso em questão:

1) Quando falamos de escolha de licença, estamos falando da “licença para o público geral”. Grandes editoras não são o público geral. Elas tem dinheiro para comprar qualquer permissão que necessitem, ou os advogados, juízes e políticos necessários para formar e burlar as regras que lhes convém. E, em último caso, elas pagarão as multas ou indenizações que conseguirem passar pelo calvário da justiça, e cujo pagamento já estava previsto na precificação dos seus produtos.

2) Essa defesa da cláusula NC se apóia em parte no fato de numerosas revistas na América Latina serem hoje organizadas por instituições públicas e associações científicas. Assim também eram organizadas grande parte das revistas científicas mundiais antes das grandes editoras as comprarem. E elas apenas não compraram as revistas latino americanas por não verem valor econômico: além de têm baixo impacto internacional, as editoras já sugam a pouca seiva que têm os países aos quais essas revistas interessam.

2.1) Uma licença NC na prática só aumenta o motivo econômico para adquirir uma revista, pois permite formas de exclusão e portanto valor enquanto mercadoria. Por exemplo, uma vez adquirida, a licença NC facilita ao mais forte excluir o mais fraco (ver ponto 1) da concorrência na provisão de serviços agregados, pela própria cláusula NC e por meios técnicos independentes do copyright, como limites de volume de acesso.

2.2) Não dá para considerar a realidade político-econômica da américa latina hoje e achar que a comunidade acadêmica da região tem cacife para aguentar a pressão no dia em que as grandes editoras tiverem motivo econômico para comprar suas revistas. Especialmente dado que as revistas latino americanas que atingem alguma relevância global já vem sendo incorporadas. Num prazo médio em que perdure a atual conjuntura, não me espantaria até o SciELO ser vendido, caso desperte o interesse.

3) Talvez o ponto mais crítico, pra não dizer triste: o principal, para não dizer o único, argumento da declaração para justificar a cláusula NC trata de defender contra “motores de busca”, “descobridores” e serviços agregados em geral. Isso mostra um grave desconhecimento das realidades legal e econômica envolvidas. Uma licença NC não vai impedir nenhum ator, “comercial” ou não, de prover uma grande parte desses serviços, em particular os dois citados explicitamente.

3.1) Lembre-se que o Google indexa e fornece inúmeros serviços analíticos sobre a Web. E lembre-se que 99% da Web tem *todos* os direitos reservados. Fica a sugestão do quão efetiva será na prática uma licença NC para o que a declaração pretende.

3.2) Ademais, qualquer luta contra esses usos, e particularmente a adoção de restrições NC, corre o risco de autossabotagem. Pois a possibilidade de mineração de texto e dados sem autorização prévia interessa, principalmente, à comunidade científica, que está longe de conseguir exceções universais “para uso acadêmico” e que, mesmo se conseguisse, seguiria longe de ter a competência e os recursos para realizá-lo na escala da própria demanda, sem parcerias com atores de mercado com compromisso pró-abertura.

Isso nos remete a essa questão: em termos de força para equiparar as ofertas de serviços das grandes editoras, as licenças NC deixam a academia e sociedade civil impedidas de colaborar com iniciativas de empreendedorismo pró-abertura, e dificultam a concorrência de pequenos e médios empreendimentos com compromisso acadêmico (i.e. ContentMine, que inovou com uma cláusula pétrea pró-abertura no seu contarto social), que não terão o capital jurídico para prevalecer contra o risco de ataques, inclusive ataques das grandes editoras que serão as primeiras e melhores a se aproveitar do NC para afogar a competição.

Em suma, eu não vejo como a adoção de licenças com cláusula NC fariam qualquer bem nesse contexto, que não seja na escala de tempo a mais míope. E, estando enganado, não vejo em absoluto como esse suposto bem seria maior do que o conjunto conhecido de males e contradições.

Nem é preciso falar do o custo político e de mobilização de se quebrar o discurso do acesso aberto em dois, dando munição para as grandes editoras defenderem uma licença que já defendem pois lhes convém. Igualmente não há necessidade de discutir que adotar uma licença incompatível com o acesso aberto internacionalmente estabelecido será mais um fator de opacidade do resto do mundo à produção acadêmica da américa latina.

Abordando o problema em termos mais gerais, o fato é que direito autoral é o instrumento errado para levar essa luta.

Isso não é, nem foi, evidente de imediato. Mas em repetidas iterações esclareceu-se que, para os interesses mesmo de médio prazo da ciência, além de se livrar das cláusulas NC e ND (não-derivados), era interessante mesmo evitar a cláusula SA (CompartilhaIgual) para publicações e, para dados científicos, preferir o domínio público.

Há, pour outro lado, instrumentos adequados para essa luta. E é temerário que essa declaração nem sequer os menciona. Uma declaração com sentido e impacto positivo para os fins propostos, ao invés de negativo, seria conclamar o dito “sistema latino americano de acesso aberto” a:

A) Integrar-se com urgência aos bancos de dados CrossRef e OrcID. Estes são os dois principais esforços que ameaçam materialmente o monopólio das grandes editoras sobre os ditos “serviços agregados”.

B) Financiar infraestruturas e pesquisas acadêmicas em consórcios para o desenvolvimento de serviços agregados ao acesso às publicações e dados, em parceria com o setor privado local pró-abertura.

C) Reforçar, inclusive por mandatos institucionais, o uso de licenças permissivas (CC-BY para publicações, CC-Zero para dados) que nivelem o jogo e garantam que toda a sociedade terá a possibilidade de fruir do conhecimento produzido, sem privilegiar quem tem capital jurídico-econômico, e independentemente de quem controlar as instituições no futuro.

* Este texto foi originalmente uma mensagem na lista Ciência Aberta, onde o assunto vinha sendo discutido.


* Por completeza, incluo aqui uma interessante pergunta do Andre Appel.

Andre L Appel disse:

    • Vendo a resposta do Ale, me pergunto por que a própria comunidade criou a modalidade NC se esta é assim tão prejudicial à própria comunidade!?
    (Sim, é pergunta retórica. Vou pesquisar 🙂 )

Ni! Legal Andre, imaginando que você já teve tempo para suas pesquisas… 😉 faço um acréscimo.

Não foi a comunidade de acesso aberto quem criou as cláusulas das licenças creative commons, foi uma organização, a Creative Commons, liderada por advogados e cujo objetivo é fornecer instrumentos jurídicos genéricos para a flexibilização dos direitos de autor. Como eles dizem, “some rights reserved”.

Vale observar que a própria Creative Commons, enquanto oferece um espectro de licenças, etiqueta as suas licenças para diferenciar as livres das não livres. As licenças com as cláusulas NC ou ND (não-derivados) não recebem a etiqueta de licença livre.

Mas não se deve ignorar que as licenças contendo as cláusulas NC ou ND são em todo caso melhores que “todos os direitos reservados” e, ademais, podem ser úteis numa transição para licenças livres onde esse for o objetivo.

Contudo, a cláusula NC impacta negativamente o acesso aberto, uma vez que essa comunidade já conseguiu, em grande medida e em particular lutando contra os esforços pró-NC das grandes editoras, estabelecer licenças livres como padrão, e nesse estado a cláusula NC representa um retrocesso, pelas razões previamente expostas.

Lembrando que as grandes editoras não defendem a cláusula NC por vocação última. Elas querem “todos os direitos reservados”. Elas defendem a NC apenas aonde a maré já virou para o acesso aberto, levando-as a analisar esse novo contexto e tanto quanto possível puxar a corda para o seu lado – o lado da exclusão e da mercantilização do conhecimento.

Publiquei este material no fórum de notícias do evento. Apareçam, está muito interessante: http://ueadsl.textolivre.pro.br


Este gráfico mostra as visualizações por tipos de acesso (a linha superior é a soma de todos, as outras correspondem a ouvinte (participante não inscrito no evento), participante (autor, coordenador de mesa e público inscrito) e professor (membros da Comissão Científica e Organizadora).

O primeiro dia do UEADSL segue o padrão dos outros anos, sendo bem movimentado. Na quarta e na quinta mantém-se estável, com um ótimo número de visualizações por participantes inscritos, uma maior participação de professores e diminuição do público ouvinte que chamamos de mudo, pois só observa e não participa com comentários. O gráfico mostra que as pessoas que por aqui passaram no dia 25 visualizaram, no total, 4079 páginas, um número recorde de visualizações no mesmo dia, na história do UEADSL desde 2010. O recorde anterior era de 29 de novembro de 2017, no UEADSL2017.2, quando tivemos 2575 visualizações num único dia.

No Moodle tornou-se mais fácil distinguir as visualizações conforme o foco, por meio da análise dos logs por dia. Podemos, portanto, saber exatamente quantas vezes as páginas do Anfiteatro, exclusivamente, foram acessadas só ontem: 1900 vezes, das quais somente 304 feitas por visitantes não logados.

Imagine só: em média, um participante como você visitou 98 locais diferentes só no dia de ontem e somente contando os espaços do bloco de programação e Anfiteatro. No anfiteatro, que possui 53 salas de apresentação de trabalhos, o trânsito de pessoas por sala ficou em 35 e cada trabalho recebeu, em média, 2,6 comentários. Parece normal, imagine uma sala com 36 pessoas assistindo seu trabalho e 3 delas fazendo pergunta no final: uma boa apresentação de trabalho, não?

Agora, lembremo-nos que os trabalhos no UEADSL ficam todo o tempo sendo apresentados e discutidos. Até ontem, já alcançamos uma média de 147 pessoas assistindo e 7,1 comentários em cada trabalho:

E só tende a aumentar, em geral até domingo.

Então, se você acha que o evento está vazio, se liga: a grande vantagem do evento ser online e assíncrono é que eu posso ir ali tranquilamente buscar um café e continuar assistindo a comunicação exatamente de onde parei, sem perder nada e nem tendo que tropeçar nas pessoas para conseguir um biscoitinho 😀 Mas as pessoas estão aqui, com certeza!