Ontem, 25 de Novembro de 2014, aconteceu o último encontro virtual de 2014 do Grupo de Trabalho em Ciência Aberta. Confira nesse post um resumo do que rolou no encontro e se desejar você poder ver o log do encontro.

Vídeo Conferência

Por vários motivos, nós queremos evitar ao máximo o uso de qualquer solução de vídeo conferência que envolva a utilização de software proprietário. Tentamos utilizar o http://meet.jit.si/ (que infelizmente só funciona com o Chromium, a versão livre do Chrome) mas algumas pessoas não recebiam o audio nem o video das outras. Acabamos desistindo de utilizá-lo e fomos fazer o encontro no nosso canal de IRC.

OpenCon

A Renata Aquino participou da OpenCon desse ano e repassou na reunião o que encontrou por lá. Ela também mandou um email para a lista com algumas informações.

Periódicos

Também tivemos um debate sobre o custo da publicação científica e a revisão por pares. Esse debate começou com a preocupação que algumas pessoas manifestaram na OpenCon sobre o acordo que a CAPES está fazendo com as grandes editoras científicas.

Queríamos muito saber o que rolou no encontro hoje lá na Casa de Cultura Japonesa da USP.

Manual de Ciência Aberta

Também foi falado sobre o Manual de Ciência Aberta que começou a ser escrito no ano passado logo depois do encontro que fizemos.

Visibilidade e Comunicação

Outra coisa que esteve na nossa reunião foi como dar visibilidade para o trabalho feito pelos membros do grupo e como evitar problemas de comunicação no grupo.

Próximo Encontro

Nosso próximo encontro será em Janeiro do próximo ano. Desejamos a todos ótimas festas.

Nessa semana, 20-26 de Outubro de 2014, ocorre a Open Access Week (veja o anúncio) e termina com o Mozilla Festival que possui uma ótima trilha de ciência. Este post possui alguns pensamentos sobre matemática, acesso aberto e esses dois eventos.

Acesso Aberto e Matemática

Da Budapest Open Access Initiative temos

"By "open access" to this literature, we mean its free availability on the public internet, permitting any users to read, download, copy, distribute, print, search, or link to the full texts of these articles, crawl them for indexing, pass them as data to software, or use them for any other lawful purpose, without financial, legal, or technical barriers other than those inseparable from gaining access to the internet itself. The only constraint on reproduction and distribution, and the only role for copyright in this domain, should be to give authors control over the integrity of their work and the right to be properly acknowledged and cited."

Infelizmente, atualmente, qualquer recurso matemática em acesso aberto não encontra-se totalmente de acordo com a definição de Budapeste pois algumas vezes usuários não podem ler ou buscar ou transmitir a expressão matemática para um software devido a barreiras técnicas. Continue a ler para entender isso.

Dispositivos

Usuários deveriam ser capaz de ler expressões matemáticas independente do dispositivo que possuem. Você já tentou ler uma expressão matemática em um dispositivo pequeno (como um celular)?

small-screen

Em alguns casos a expressão matemática é maior que a tela e o dispositivo não quebra a equação em múltiplas linhas nem deixa o usuário rolar a tela ou ampliar/reduzir o texto.

Expressões Matemáticas como Imagens

Atualmente, na maior parte do tempo que você encontra na internet é uma imagem rasterizada (pense em um arquivo JPG). Isso não ajuda o acesso aberto pois você não pode remixar, buscar ou usar a expressão como entrada para um programa de computador. Se você possuir alguma dificuldade visual você também pode ser incapaz de ler a expressão.

Existe uma solução? Sim, MathML. MathML é um padrão proposto pelo W3C que possibilita remixar, buscar ou usar a expressão como entrada para um programa de computador (que torna possível oferecer soluções para pessoas com dificuldades visuais).

Ferramentas de Escrita para MathML

Já temos uma longa lista de ferramentas com suporte para produzir MathML. No caso do acesso aberto gostaria de destacar pandoc, que converte vários formatos de arquivo para HTML+MathML, e LaTeXML, que converte LaTeX para HTML+MathML e possui suporte a vários pacotes LaTeX.

Ferramentas de Leitura para MathML

Ferramentas para renderizar MathML é o grande empecilho para adoção de MathML. O motor utilizado pelo Firefox e Chrome possuem suporte ao MathML (Chrome não é distribuido com suporte a MathML) mas o Gecko, o motor do Firefox, ainda precisa seguir parte da especificação do W3C (quebra de expressões em linhas e matemática elementar) e o WebKit, o motor do Chrome, precisa de várias melhorias e, também, seguir parte da especificação do W3C.

mathml-on-firefox
mathml-on-epiphany

Nota:
A maior parte, se não toda, da implementação do suporte ao MathML no Gecko e WebKit foi feito por voluntários que algumas vezes possuem sorte em ter sucesso em projetos de crowd founding para alavancar o suporte ao MathML.

MathML na Open Access Week e MozFest

Estou um pouco desapontado por não ter visto notícias relacionadas com MathML durante a Open Access Week e que, algumas vezes, a conversa em grupos de Acesso Aberto limitação a licenças e barreiras financeiras.

Em relação ao MozFest, também não vi nenhuma proposta dedicada ao MathML mas tenho esperança de ouvir alguma coisa da sessão sobre ferramentas para escrita.

Billings 2008051703.jpg
Billings 2008051703” por Hamilton Breternitz Furtado – Obra do próprio. Licenciado sob CC BY 3.0 via Wikimedia Commons.

Água – Disponibilidade e Qualidade, são temas que despertam o interesse de muitos, em maior ou menor grau.

Alguns lidam com esses assuntos de forma profissional pois trabalham em organizações públicas ou privadas que atuam, direta ou indiretamente, com Recursos Hídricos. Muitos vêem na Água apenas um bom negócio com grandes oportunidades de lucro. Daí vem a expressão “Vender como água”.

Outros tantos lidam com essas questões vendo nelas oportunidades para se sentirem úteis e atuam voluntariamente na busca de alternativas para os desafios do tema Água. E alguns milhões de seres humanos se preocupam com a Água porque estão vivenciando dificuldades concretas no seu dia a dia decorrentes da escassez ou da qualidade inadequada desse recurso.

Seja qual for a motivação, ou as motivações, para se envolver com esse assunto, acredito que um componente fundamental é o “Acesso à Informação”. Mas que tipo de informação é importante quando se trata de um tema tão universal?

Quais saberes são necessários para termos uma visão razoavelmente abrangente sobre o tema, e podermos contribuir, dentro do nossos campos de atuação, para o aumento da Sustentabilidade na gestão dos Recursos Hídricos? Tenho me feito essa pergunta e por isso procurei organizar algumas informações para me localizar em um tema tão Multidisciplinar. Escolhi tentar seguir o “Caminho das Águas” dentro da sociedade humana e montar um “Ciclo Genérico de Uso/Reuso da Água” que pudesse contemplar o seu uso urbano, industrial ou rural.

ciclo_uso_agua

Vamos comentar nos próximos posts as etapas desse ciclo, alguns desafios e oportunidades, e a importância da “Informação Aberta” para termos um “Olhar Aberto” sobre a Água. Até o próximo post…

collab

Nota: Essa é a tradução para o português do post “Collaborative Lesson Development – Why Not?” de Justin Kitzes. A figura anterior não faz parte do post original em inglês.

Algumas semanas atrás, Greg Wilson perguntou-me:

Por que existe tão poucos currículos e planos de aula desenvolvidos de forma aberta e colaborativa? Existe alguma coisa que torna o ensino diferente de programar (e.g., open source software) e escrever (e.g, Wikipedia)?

Depois de uma dúzia de emails, não posso dizer que ficamos próximo de uma resposta definitiva, mas chegamos a uma hipótese e estamos interessados em comentários.

Os três principais ingredientes necessários para o desenvolvimento colaborativa de qualquer tipo de material são:

  1. alguém que fornece a infraestrutura necessária para o projeto,
  2. grupo de pessoas que integrem e gerenciem contribuições, e
  3. contribuidores que produzem o material.

Por exemplo, o desenvolvimento contínuo do IPython requer GitHub, o time principal de desenvolvedores (especialmente Fernando Pérez e Brian Granger), e pesquisadores/programadores capacitados para enviar contribuições. O crecimento da Wikipedia requer a Fundação Wikimedia, o time de administradores, e leitores interessados que saibam como utilizar o editor online.

A falta de planos de aula abertos e colaborativos pode decorrer da ausência de qualquer um desses três fatores. Greg acredita que a grande limitação seja #2: enquanto vários educadores/professores podem escrever e editar planos de aula parece que eles não estão capacitados a gerenciar o desenvolvimento de um material colaborativo. Entretanto, a existência de livros colaborativos sugere que essa não seja uma atividade absurda.

Me voto é que a grande limitação seja #3: potenciais contribuidores necessitam de um certo nível de familiaridade e conforto com as ferramentas que possibilitam trabalhar de forma colaborativa (tais como controle de versão ou editor online). Suspeito que essas habilidades são mais raras em educadores quando comparado a programadores ou leitores da Wikipedia.

Uma interessante excessão é o material desenvolvido pela Software Carpentry. Software Carpentry funciona graças ao GitHub, Greg e um time de colaboradores, e vários instrutores familiarizados com o modelo de pull request presente no GitHub. O uso do GitHub e a familizarização com o mesmo deve-se ao fato de que os contribuidores do material da Software Carpentry são, by design, também pesquisadores e programadores.

Importante, a intervenção necessária para promover o desenvolvimento de materiais colaborativos dependerá de onde o gargalo encontra-se:

  1. Se o problema inicial é a infraestrutura, alguém precisa financiá-la, mantê-la, e (mais importante) divulgá-la em algum website com grande visibilidade. Curriki parece ser uma possibilidade (embora Greg tenha notado que várias iniciativas similares tenham falhado no passado). Uma importante consideração deve ser diminuir as habilidades necessárias para contribuidores à menor quantidade possível (pense em um editor online ao invés do modelo fork/pull utilizado pelo GitHub).
  2. Se o problema inicial é o grupo de pessoas que gerenciem o projeto, um grupo dos atuais líderes na educação precisam ser voluntários ou oferecerem incentivos para aqueles que forem voluntários na tarefa de iniciar o desenvolvimento e gerenciamento de tal material na sua respectiva área. Esse papel pode e deve ser reconhecido como equivalente a ser o editor de um livro publicado.
  3. Se o problema inicial é a falta de contribuidores, treinamentos nas ferramentas colaborativas a serem utilizadas deve ser oferecido para educadores que manifestarem interesse na ideia de desenvolver planos de aula abertos. Embora incentivos podem ser úteis, contribuidores de software de código aberto e da Wikipedia normalmente não recebem compensações diretas pelo seu trabalho.

Ou talvez isso seja um trabalho em andamento e precisemos esperar a próxima geração de educadores (e estudantes).

E isso foi até onde conseguimos chegar. O que você pensa?

Nota: agradecimentos ao Rafael Pezzi pelo texto sobre o CTA.

Na minha apresentação no I Simpósio sobre Acesso Livre na UFMG eu utilizei a figura abaixo como ponto de partida.

Ilustração dos pilares da Ciência Aberta: constituição, tecnologia, treinamento e comunidade.

O que desejava ilustrar é a importância da tecnologia disponível, da prática no uso dessa tecnologia e da comunidade envolvida(na figura sob o nome social), todos respaldados pela constituição, para o sucesso da Ciência Aberta.

CTA

O CTA é um exemplo de contribuição nesses três pilares. Ele tem como objetivo o desenvolvimento de projetos científicos e tecnológicos compatíveis com o compartilhamento de conhecimento, natural do espírito científico, fomentando o desenvolvimento e adoção de tecnologias livres e recursos educacionais abertos. Visa definir novos padrões nos modos nos quais o conhecimento gerado na universidade seja difundido e utilizado pela sociedade, buscando autonomia e governança para os usuários e desenvolvedores de tecnologia.

A fim de diminuir as barreiras para a livre circulação de conhecimento, a adoção de licenças permissivas, formatos de dados abertos e ferramentas livres capazes de lê-los, interpretá-los e modificá-los são essenciais. A partir desta perspectiva, o CTA busca criar, desenvolver e adotar ferramentas livres para o uso e desenvolvimento do conhecimento. Faz isto aplicando princípios de Ciência Aberta e Recursos Educacionais Abertos para projetos de ensino, pesquisa e extensão da universidade. No CTA busca-se adotar práticas para desenvolvimento de projetos onde as etapas intermediárias do progresso do projeto são registradas em sistemas de controle de versão a fim de facilitar a continuidade dos projetos, e dos estudos a eles relacionados, a inclusão de novos colaboradores e da criação de derivações (forks) do projeto original.

Um dos projetos de destaque é o da Estação Meteorológica Modular, que busca criar uma rede de monitoramento meteorológico e ambiental em escolas através da instalação e manutenção destas estações pelos próprios alunos e professores.