Comecemos por um exemplo de peso: compare o PDF de dois artigos aleatórios da revista PLOS ONE, um recente de 2015 outro de 2014 ou antes: PDF PlosONE de 2015; PDF PlosONE de 2014.

Surpresa? O de 2015 está mais “feinho”! Involução? Falha no sistema?

Não parece falha, pois todas as outras funcionalidades estão perfeitas no site (inclusive, se nunca reparou, repare no XML no botão de download).

Não é falha… Explico, primeiro dentro de uma perspectiva histórica e tentando encaixar o Brasil nesse contexto.

Em 2011 lançamos uma “profecia patriótica”, de que o processo produtivo das revistas científicas seria mais eficiente e muito mais barato.
A eficiência vem sendo lentamente conquistada nas revistas brasileiras pela iniciativa do SciELO de adotar o XML como “dual” do PDF, desde 2013, mas o custo não: ainda hoje a diagramação de artigos científicos nas revistas brasileiras segue o modelo produtivo artesanal tradicional, os retoques e revisões são impostos pela cultura do “fazer bonito no papel”.
A exigência dos autores e editores brasileiros em revisar a prova tipográfica, e não levarem a sério e se restringirem à revisão do conteúdo antes dessa prova, tem um custo financeiro altíssimo. O tal do processo XML-Publishing só vai ser significativamente mais econômico se não houver intervenção humana nem loops de revisão…
Essa cultura tem sido a maior barreira à profecia de 2011.

Isso não ocorre apenas no Brasil, mas em revistas onde autores e editores mantém no subconsciente, como modelo, as suas Rolls-Royce journals (ex. Nature)… É como um indústria de carros 1.0 querendo imitar o design tradicional de alto luxo, a um custo de dois carros… Injustificável para as revistas, inclusive de alto impacto, que praticamente não publicam mais em papel.

O que mudou agora em 2015?

Maior revista científica do mundo, e OpenAccess de maior impacto, a PLOS ONE, depois de “engolir” durante anos que os autores pagavam muito caro para estar na revista, decidiu iniciar a sua cruzada contra a cultura irracional da revisão da prova tipográfica. O contrato do autor com a revista é em torno do conteúdo (do XML!), não da sua visualização no papel.

As revistas científicas ainda não podem “aposentar o PDF” pelo mesmo motivo que os Diários Oficiais: o PDF tem um certo valor de registro oficial. Isso vai levar um tempo… Todavia acervos como SciELO e PMC, e as linhas de produção das editoras científicas, já incorporam o XML JATS como prioridade.De brinde: o EPUB resultante desse processo focado em 1 coluna pode ser tão bom quanto o PDF; lembrando que ambos, PDF e EPUB, são automaticamente gerados a partir do XML.

Na Web esse dilema do “PDF feinho” pode também ser rotulado de “dilema do fluid vs rigid“.
O que ocorreu na PLOS ONE, de qualquer forma, não foi uma decisão de design, mas uma decisão de processo produtivo e de mudança cultural.

… Agora o subconsciente da comunidade científica já tem para onde olhar… Que tal uma campanha? Se para mudar a cultura, basta mudar os sonhos, sonhem em ser uma PLOS ONE!