# O risco do acesso aberto ficar atrelado às editoras comerciais existentes – a necessidade de um sistema global de publicações acadêmicas de acesso aberto não comercial ## Notas 1. O texto aqui presente é uma tradução de > Babini D. The risk of open access becoming integrated into existing commercial publishing - the need of a global system of noncommercial open access scholarly communications. Rev Eletron de Comun Inf Inov Saúde [Internet]. out-dez 2014; 8(4):438-442. > > Disponível em: > > Submetido: 24.nov.2014 | Aceito: 27.nov.2014 | Publicado: 19.dez.2014 > > Conflito de interesses: não há. > > Fontes de financiamento: não houve. > > Licença: CC BY-NC atribuição não comercial. Com essa licença é permitido acessar, baixar (download), copiar, imprimir, > compartilhar, reutilizar e distribuir os artigos, desde que para uso não comercial e com a citação da fonte, conferindo os devidos > créditos de autoria. Nesses casos, nenhuma permissão é necessária por parte dos autores ou dos editores. 2. O texto original foi baseado na apresentação Open Access Scholarly Publishers Association-OASPA’s 6th Conference on Open Access Scholarly Publishing (COASP), UNESCO, September 2014. ## Resumo Na Europa e nos Estados Unidos, as publicações acadêmicas têm sido terceirizadas, e um dos negócios mais lucrativos nesse cenário foi criado pelas principais editoras acadêmicas comerciais internacionais que, hoje, se oferecem para cuidar do acesso aberto, construindo uma nova área para o conhecimento fechada ao países do Sul. Assim, desviam a atenção de governos, de agências de financiamento e da comunidade acadêmica, no Norte e no Sul, no que se refere à necessidade de construir um ecossistema mundial baseado em plataformas de publicação e repositórios de acesso aberto não comercial institucionais, nacionais e internacionais, compartilhados e com interoperabilidade. Se quisermos que as vozes dos países do Sul tenham mais participação e impacto nos debates globais sobre questões que nos preocupam, a comunidade acadêmica global deverá cuidar das publicações acadêmicas de acesso aberto, inclusive dos sistemas de revisão por pares, de controle de qualidade e de indicadores para avaliação. **Palavras-chave**: Publicações acadêmicas; Acesso aberto; Repositórios; Periódicos científicos; Avaliação de pesquisas; Taxas para publicação de artigos  ## Artigo > temos que fazer uma série de decisões a todo momento ... > temos que pensar sobre quem está sendo incluído e quem está sendo excluído ... > ... o que parece aberto para nós hoje, precisamos nos perguntar ... isso será visto como aberto amanhã? > > John Willinsky[^iii] [^iii]: John Willinsky na Conference Opening Science to Meet Future Challenges [streaming video]. [Warsaw, Poland]: 11 Março 2014. [citado em 2014 Novembro 22]. Disponível em: Várias décadas atrás, a comunidade acadêmica na Europa e nos Estados Unidos da América terceirizou a comunicação acadêmica e um dos negócios mais lucrativos[^1] foi construído pelas principais editoras internacionais acadêmicas comerciais. Com margens de lucro de 30-40%[^2], principalmente devido ao fato dos salários dos autores, revisores e muitas vezes do comiter editorial ser pago, diretamente ou através da exoneração de taxas[^3], por meio de recursos públicos e outros recursos de pesquisa. Editoras comerciais acadêmicas tem cuidado da comunicação acadêmica fechada, cuidado para que apenas os "melhores" periódicos, definidos nos seus próprios termos, sejam incluídos nos índices de avaliações científicos[^4][^5][^6][^7], e assim perpetuando o círculo vicioso onde as vozes do Sul, sobre problemas de interesse de grande parte da população mundial, tem pouca possibilidade e ser ouvido, lido, utilizado, quando realizado novas pesquisas e debates problemas prioritários para um mundo sustentável. Agora, editoras comerciais oferecem-se para cuidar do acesso aberto, cobrando uma taxa de processamento por artigo (TPA ou, em inglês, APC) média de USD 2.097/2.727 por artigo para que esse seja publicado em acesso aberto[^8], buscando assim reproduzir o modelo anterior de preços irracionais[^9], transformando o acesso aberto de forma a ele funcionar aos seus próprios objetivos[^10], criando uma nova barreira ao conhecimento do Sul[^11]. Em um contexto internacional onde apenas 30% dos periódicos cobram TPA's[^12], é preocupante ver o avanço do modelo baseado na cobrança de taxa de processamento por artigo como o melhor caminho para a publicação em acesso aberto, mesmo que com preços inferiores que os das editoras comerciais, pois distraí governos, agências de financiamento e a comunidade acadêmica, tanto do Norte como do Sul, da necessidade de construir um ecossistema global para o acesso aberto baseado no compartilhamento e interoperabilidade institucional não comercial para repositórios digitais de acesso aberto[^iv] e plataformas de publicação nacionais e internacionais que não cobrem os usuários e nem os autores/instituições. Isso irá permitir atingir o objetivo do International Council for Science-ICSU para o acesso aberto[^13]: > O registro científico deve ser: > > - livre de barreiras financeiras para que qualquer pesquisador possa > contribuir com; > - livre de barreiras financeiras para que qualquer usuário tenha acesso > imediato as publicações; ... [^iv]:  Open access digital repositories are registered in . O acesso ao conhecimento é um direito humano. A internet, a Web e novas tecnologias informacionais e de comunicação permitem que cada momento mais oportunidades para regiões em desenvolvimento contribuírem em conversas locais/regionais como também globais. Essas contribuições precisam passar por um controle de qualidade e aparecerem em indicadores de avaliação, independente de serem publicados em inglês na América do Norte ou serem publicados em línguas locais por editoras independentes locais/regionais. Entender o conhecimento como algum comum[^14] está nos ajudando a pensar em maneiras como podemos gerenciar o acesso aberto também como algo comum. A comunidade acadêmica global precisa ter o controle do processo de revisão por pares e do sistema de indicadores de avaliação. Repositórios de acesso aberto e portais de periódicos gerenciados como iniciativas colaborativas entre universidades e outras organizações de pesquisa em regiões em desenvolvimento[^v] indicam claramente que uma abordagem base-topo pode servir muito bem a políticas de acesso aberto sendo emitidas por governos e agências de financiamento[^vi]. Implementar o acesso aberto em cada país consiste em investir no desenvolvimento de repositórios de acesso aberto e infraestrutura de publicação, adoção de políticas de acesso aberto, programas educacionais e promoção do acesso aberto[^15]. [^v]:  Examples of non-commercial open access regional journal portals in developing regions are SciELO and Redalyc (Latin America), AJOL and Scielo SA (Africa). Several universities run collections of their own open access journals, examples of universities with more than a hundred journals in their collection: the National Autonomous University of Mexico (UNAM), the University of Sao Paulo (Brazil), and the University of Chile. In recent years main research universities from developing regions have started developing, or planning, institutional open access digital repositories, which interoperate with national and regional systems of digital repositories, as is the case of 9 countries of Latin America in La Referencia, member of COAR-Confederation of Open Access Repositories. Se quisermos que vozes do Sul tenha mais participação e impacto em conversas globais sobre problemas de interesse com para todos, a comunidade acadêmica global deve cuidar do modelo de acesso aberto para a comunicação acadêmica. > Se a comunidade científica deseja garantir que um regime de acesso aberto que > melhor satisfaça suas necessidades seja instaurado ela deveria urgentemente > abraçar o acesso aberto hoje, e sob os seus próprios termos. Se ela esperar > até que o acesso aberto seja confiável é provável que terá que aceitá-lo de > uma maneira muito menos prazerosa. Faça hoje ou arrependa-se confortavelmente. > > Richard Poynder[^16] [^vi]:  Examples in Latin America: Peru and Argentina have passed in Congress in 2013 national legislation requiring open access repositories for publicly-funded research, Mexico in 2014, and still in Congress in Brazil and Venezuela. World national and institutional open access policies are registered in [^1]: Monbiot, G. Academic publishers make Murdoch look like a socialist. The Guardian [Internet]. 29 August 2011 [cited 2014 November 22]; Available from: [^2]: Taylor, M. The obscene profits of commercial scholarly publishers. 2012 Jan 13 [cited 2014 Nov 22]. In: Saurapod Vertebra Picture of the Week [Internet blog]. [Place unknown]: Available from: [^3]: Shieber, S. Public underwriting of research and open access. 2014 Apr 4 [cited 2014 Nov 22]. In: The Occasional Pamphlet on Scholarly Communications [Internet blog]. Cambridge, Mass. Available from: [^4]: Vessuri H, Guédon J-C, Cetto A M. Excellence or quality? Impact of the current competition regime on science and scientific publishing in Latin America and its implications for development. Current Sociology. 2014 September; 62: 647-665. [^5]: Chan L, Kirsop B, Arunachalam S. Towards Open and Equitable Access to Research and Knowledge for Development. PLoS Med 2011; 8(3). Available from: [^6]: Chan L, Gray E. Centering the Knowledge Peripheries through Open Access: Implications for Future Research and Discourse on Knowledge for Development. In: Open development : networked innovations in international development / edited by Matthew L. Smith, and Katherine M.A. Reilly. Cambridge, MIT Press, 2013 [cited 2014 Nov 22]. Available from: [^7]: Czerniewicz L. Inequitable power dynamics of global knowledge production and exchange must be confronted head on. 2013 Apr 29 [cited 2014 Nov 22]. In: The impact blog [Internet]. London: London School of Economics-LSE. Available from: [^8]: Björk B-C, Solomon D. Developing an effective market for open access article processing charges. Final report. (2014). Espoo, Finland and Michigan, USA; 2014 [cited 2014 Nov 22]. Available from: [^9]: Willinsky J. The replicability of research´s irrational publishing economy. 2014 Nov 20 [cited 2014 Nov 22]. In: Slaw Canada´s online legal magazine [Internet blog]. Available from: [^10]: Rentier B. The success of Open Access is revealing new dangers. The fight isn´t over yet. 2014 Oct 25 [cited 2014 Nov 22]. In: Ouvertures immédiates [Internet blog]. Belgium. Available from: [^11]: Babini D. APC´s – a new enclosure to knowledge. At: COASP - 6th Conference on Open Access Scholarly Publishing. [streaming video]. [UNESCO,Paris, France]: 2014 Sept 19 [cited 2014 Nov 22]. Disponível em: [^12]: Directory of Open Access Journals [Internet]. Lund, Sweden: the Directory of Open Access Journals; [cited 2014 Nov 22]. Available from: www.doaj.org [^13]: International Council for Science-ICSU. Open access to scientific data and literature and the assessment of research by metrics. 2014 [cited 2014 Nov 22]. Available from: [^14]: Hess Ch, Ostrom E, editors. Understanding knowledge as a commons: From theory to practice. Cambridge: MIT Press; 2006 [cited 2014 Nov 22]. 382 p. [^15]: Swan A, Willmers M and King T. Opening access to Southern African research: recommendations for university managers. SCAP (Scholarly Communication in Africa project). 2014 [cited 2014 Nov 22]. Available from: [^16]: Poynder R. The State of Open Access. 2014 Mar 21 [cited 2014 Nov 22]. In: Open and Shut [Internet blog]. England. Available from: