A ideia de que o conhecimento científico, de todos os tipos, deve ser compartilhado abertamente tão cedo quanto praticável no processo de descoberta. —Michael Nielsen
Oi pessoal, dia 25 de maio ocorre em Recife um encontro super legal promovido pelo Grupo de Métodos de Pesquisa em Ciência Política (MPCP/UFPE), focado em práticas de Ciência Aberta na ciência política, economia e disciplinas correlatas.
O workshop busca oferecer aos participantes, por meio de uma perspectiva multidisciplinar, a compreensão das melhores práticas para pesquisa aberta e replicável nas Ciências Sociais. A programação será composta por profissionais com expertise em transparência científica e haverá um espaço destinado ao trabalho colaborativo e a capacitação prática dos participantes.
A Mozilla Science está recebendo propostas de Fellows – que são financiados por 10 meses para promover abertura nas suas instituições – e de Mini-Grants – para projetos em prototipagem, comunidade e treinamento em Ciência Aberta.
Em teoria a vida como pesquisador é ótima. Eles tem a possibilidade de aprender sobre um assunto que amam e fazer experimentos que irão gerar dados inéditos, que por sua vez permitirão responder perguntas até então sem resposta e extender as fronteiras do conhecimento humano. Se eles fizerem seu trabalho de maneira correta, a pesquisa também pode levar a uma melhoria da qualidade de vida. Porém quando a realidade se impõe, percebemos que os frutos dessa carreira vem a passos lentos, e muitas vezes de pouco alcance. O progresso da ciência é constante, mas vagaroso, com um intervalo de anos, se não décadas, entre a sugestão de novas teorias e sua consolidação, ou ainda, da dispersão de conhecimento na sociedade em forma de novos produtos/terapias e modos de pensar.
Figura 01: O tamanho dos territórios representa a proporção de todos os artigos científicos publicados em 2001. Modified from Worldmapper.org
Uma das razões para essa demora é que a pesquisa é feita por um número pequeno de pessoas, em um número limitado de lugares (Figura 1). Como pode ser visto no mapa, a distribuição da produção científica (nesse exemplo, medida em número de artigos publicados), é altamente desigual, e não correlacionada com o número de habitantes de um país. Japão e Nigéria por exemplo, tem populações de tamanho similar (~127 e 148 milhões de habitantes respectivamente), mas uma disparidade incrível na quantidade de artigos publicados. Infelizmente os resultados do país africano são similares a uma grande parte de outros na África Subsaariana. Essa distribuição desigual leva, entre outras coisas, ao fenômeno de “fuga de cérebros”, onde pesquisadores deixam seus países de origem em busca de melhores condições de trabalho. Esse fenômeno leva por sua vez a uma piora nas condições de desenvolvimento e de desiqualdade global (1). É necessário lembrar que em um mundo interconectado a pobreza e condições de vida ruins geradas por destribuição desiqual da riqueza, afetam não apenas pessoas vivendo em países distantes, mas a todos nós, e a menos que façamos algo a respeito, problemas atuais, como a crise de refugiados e o aumento de movimentos com inclinações terroristas irão apenas piorar (2).
Uma possível solução para tornar as condições de trabalho mais interessantes em nações em desenvolvimento, é investir na melhoria tanto da capacidade técnica como da infraestrutura local a ponto de torná-los competitivos e atrativos para pesquisadores do mundo todo. Esses são os objetivos do TReND in Africa (3), uma ONG fundada por três pesquisadores: Lucia Prieto, Sadiq Yussuf, e Tom Baden (das universidades de Lausanne, Kempala e Brighton, respectivamente). A organização atua no nível universitário, e é mantida por um time de aproximadamente 50 voluntários, que vão desde alunos de mestrado até professores eméritos, vindos de diferentes países e de diferentes áreas do conhecimento (Figura 2).
Figura 02: A rede de voluntários, ex-alunos e instituições parceiras do TReND. Modificado de www.trendinafrica.org
– Workshops/cursos de verão – Vários Workshops e cursos de verão foram realizados até hoje, em diferentes áreas do conhecimento (alguns exemplos são neurociência e genética, bioinformática, redação científica, neurociência computacional, construção de equipamento de laboratório sob licensas de código aberto). Os cursos ocorrem em instituições africanas e recebem alunos de diversas universidades do continente que passam por treinamento intensivo (de duas a três semanas) com conteúdo ministrado por especialistas do mundo todo.
– Construção de infraestrutura – Equipamentos doados aoTReND são colocados a disposição de pesquisadores de instituições africanas através de um catálogo. O pesquisador requisitante recebe o equipamento necessário após se comprometer a compartilhar o equipamento com terceiros que tenham interesse em realizar experimentos similares.
– Ensinar na África – Esse programa faz o intermédio de pesquisadores doutores, em qualquer estágio de suas carreiras, que queiram passar períodos prolongados (geralmente um ou dois semestres) como pesquisadores visitantes em instituições africanas para exercer pesquisa e lecionar alunos nos programas de gradução e pós das instituições participantes.
Extensão – Ex-alunos dos cursos visitam escolas de ensino médio e fundamental para dividir experiências sobre a vida como pesquisador, e realizar experimentos nas salas de aula para demonstrar as maravilhas da ciência. O intuito deste programa é mudar a percepção das crianças sobre a carreira ciêntifica, quebrando conceitos falhos e demonstrando que existem caminhos “alternativos” para além de medicina, direito e engenharia.
Apesar da ONG ser relativamente nova, fundada em 2011, algumas notícias e resultados interessantes estão começando a aparecer, entre eles:
– Vários relatos de ex-alunos sobre a aplicabilidade do conhecimento adiquirido nos cursos e workshops.
– O engajamento e iniciativa própria de ex-alunos ao criar e executar projetos de extensão.
Esses exemplos indicam que os esforços do TReND estão tendo um efeito multiplicador, já que o conhecimento e equipamentos compartilhados estão sendo usados e novamente compartilhados com terceiros. Eles também indicam que a organização está indo na direção correta, já que os ex-alunos são capazes de utilizar os novos conhecimentos para se tornarem mais independentes e aumentarem sua capacidade científica. Caso o efeito multiplicador se mantenha, pesquisadores do continente Africano terão condições de influenciar de maneira significantiva o futuro de suas nações, já que eles serão capazes de produzir ciência mais transparente, confiável e de custo acessível, focando nos interesses e problemas locais. Além disso, o problema de “fuga de cérebros” poderia ser minimizado, já que grandes movimentos migratórios valeriam menos a pena.
Referências:
1) Kasper, J; Bajunirwe, F; 2012 – Brain drain in sub-Saharan Africa: Contributing factors, potential remedies and the role of academic medical centres. Archives of disease in childhood 97:11 973-979
Reforçamos o convite a todos para participar da OpenCon 2016 Campinas. A menos de 1 semana do evento, o encontro já conta com 200 inscritos e 40 submissões de posters que serão apresentados durante a conferência (inscrições prolongadas referente à data do poster abaixo). Registre-se já!
Esta é uma adaptação da newsletter do Mozilla Science, edição de Junho.
Chamada à comunidade Mozilla Science
Na chamada à comunidade deste mês, palestrantes falaram sobre co-working e colaboração. Sydette Harry falou sobre o The Coral Project, Alexander Naydenov sobre o Paper Hive, Mark Merrill sobre o Aquarium, e Gerald Rich sobre o Data Proofer.
Seja um embaixador PaperHive
PaperHive é uma plataforma de co-working para pesquisadores que desejam fazer leitura colaborativa. Para ser um embaixador da plataforma, entre em contato: @paperhive ou info@paperhive.org
Grupo de estudos Mozilla Science
No último grupo de estudos, falamos sobre Biojulia, um aplicativo de linguagem Julia para informática. Podem ser acessados o Etherpad e o vídeo da reunião.
Nesse mês falamos com Amel Ghouila, que gerencia o grupo na Tunísia. Conheça melhor o grupo.
Projetos
A reunião de Projetos do mês contou com a participação de Anna Krystalli, membro da Universidade de Sheffield, e Karthik Ram, co-fundador do rOpenSci. Karthik é um cientista de dados e defensor da ciência aberta na UC Berkeley.
A Global Sprint da Mozilla foi um sucesso, com aproximadamente 35 locais hospendando mais de 50 horas de hacking. Veja as estatísticas, gráficos, dados e siga os projetos do evento.
Mozilla festival
Acontece em Agosto o Mozilla Festival, evento anual de três dias com palestras, ferramentas, workshops, e projetos artísticos sobre ciência aberta. Faça propostas para o evento e se inscreva.
A partir de agora o Blog contará com uma newsletter mensal, adaptada da produzida pelo Mozilla Science, com as principais novidades sobre a Ciência Aberta!
O último encontro dos Grupo de Estudos, que aconteceu dia 20 de Maio, reuniu palestrantes sobre Biojulia, um aplicativo de linguagem Julia para bioinformática. Você pode acessar o Etherpad ou o video do encontro para ficar por dentro do que rolou.
Projetos
No encontro de projetos, foram ouvidos diversos participantes do #mozsprint, uma jornada de dois dias por ferramentas, materiais e recursos pela ciência aberta. Novos projetos ainda estão sendo aceitos. Sobre a jornada.
Tropixel Labs é a quarta edição do evento que trabalha na fronteira entre arte, ciência, tecnologia e sociedade em Ubatuba/SP. Acontece entre os dias 22 e 24 de outubro, acompanhando a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (…)
Dentre as atividades haverá uma rodada sobre o projeto Ciência Aberta Ubatuba, oficinas de hardware aberto para pesquisa, e debates sobre ‘Educação Aberta’ e ‘Ciência, Tecnologia e Inovação’, além da exibição de filmes da mostra Bio-fiction.
Nos dias 19 de agosto (no Rio de Janeiro) e 24 de agosto de 2015 (em São Paulo), ocorrerá o lançamento do livro “Ciência Aberta, questões abertas”, resultado do Seminário Internacional com o mesmo nome, realizado no Rio de Janeiro em agosto de 2014. Locais e horários dos lançamentos serão:
No Rio de Janeiro, dia 19 de agosto das 17:00 às 19:30, no restaurante do CBPF, Rua Lauro Muller 455, Botafogo.
Em São Paulo, dia 24 de agosto das 18:30 às 21:30, na Casa Jaya, Rua Capote Valente 305, próximo ao metrô Clínicas.
A coletânea foi organizada por Sarita Albagli (Ibict), Maria Lucia Maciel (UFRJ) e Alexandre Hannud Abdo (GHC), e editada pelo Ibict e a Unirio.
O livro conta com os seguintes capítulos:
Ciência aberta em questãopor Sarita Albagli
Modos de ciencia: pública, abierta y comúnpor Antonio Lafuente e Adolfo Estalella
Ciência aberta: revolução ou continuidade?por Alessandro Delfanti e Nico Pitrelli
O caminho menos trilhado: otimizando para os impactos desconhecidos e inesperados da pesquisapor Cameron Neylon
O que é ciência aberta e colaborativa, e que papéis ela poderia desempenhar no desenvolvimento?por Leslie Chan, Angela Okune e Nanjira Sambuli
Ciência cidadã: modos de participação e ativismo informacionalpor Henrique Parra
Hardware aberto para ciência aberta no sul global: Diplomacia geek?por Denisa Kera
Ciência aberta: dos hipertextos aos hiperobjetospor Rafael Pezzi
Dados abertos e ciência abertapor Jorge Machado
Educação superior a distância, universidade aberta e ciência cidadã: o desafio das diferençaspor Ludmila Guimarães
Por que open notebook science? Uma aproximação às ideias de Jean-Claude Bradleypor Anne Clinio
Direções para uma academia contemporânea e abertapor Alexandre Hannud Abdo